IMPONDERÁVEIS
Imponderável é o que não se pode pesar,
considerar ou avaliar.
Por outro lado, ponderável é o que pode ser considerado com lucidez ou apreciado com maturação.
É o que pode ser exposto com racionalidade, firmado na lógica, observado e analisado em dados, pensado nos mínimos detalhes e dissecado em partes de um todo.
O
ponderável permite que nossas mentes,
embora limitadas, atuem nas coisas comuns da
vida, mesmo que sejam carregadas de complexidade.
Algumas
pessoas se tornaram especialistas em oferecer soluções para as
coisas triviais da vida,
tornando tudo previsível e passível de administração.
Isso acontece porque o ponderável diz respeito a tudo o que se configura no campo natural.
Deus, ao
contrário dos humanos, vale-se não só do natural, mas principalmente, do
imponderável que tem lugar no campo sobrenatural.
É assim
que Ele estabelece sua vontade nos caminhos e descaminhos do homem em geral.
Por vezes, Deus ouve os clamores de seus servos atendendo aos apelos de fé, e se apraz em
atender
de forma maravilhosa, semeando benefícios
por meio de coisas e situações consideradas
como imponderáveis.
Houve um homem no meio do povo de
Deus - Acabe - que foi guindado à posição de rei de Israel
e se
estabeleceu em Samaria.
Maldoso
como ele só, esse rei fez o que era mau aos olhos do Senhor, suplantando a todos os seus antecessores.
Casou-se
com Jezabel – filha do rei dos sidônios – uma devota declarada do deus Baal.
Sendo um tipinho influenciável, Acabe viveu conduzido pela mulher, e por isso mesmo, passou a servir com unhas e dentes ao deus dela - Baal - e de tal forma,
que facilitou como pode a adoração a ele.
Edificou um
altar adornado por um requintado bosque com o objetivo de atrair
o povo, afastando-o cada vez mais do Deus Todo-Poderoso.
O problema
é que o afastamento de Deus sempre traz consequências, e no caso desse cidadão,
elas foram evidentes demais.
IMPONDERÁVEL No.1 - CORVOS TRANSPORTADORES
Deus ordenou ao profeta Elias que comunicasse
a Acabe um severo vaticínio sobre o seu reinado.
“Vive o Senhor Deus de Israel, perante cuja face estou que, nestes anos,
nem orvalho, nem chuva haverá
senão segundo a minha palavra.”
(I Re. 17.1)
A falta de
chuva provocaria seca e fome sem
precedentes em toda a região.
Mas bom é que
se diga, que o profeta Elias também estaria inserido no contexto da punição divina.
Com um ressalto apenas: o tratamento reservado a ele, em meio a adversidade,
seria diferenciado.
O Senhor então ordenou a Elias que acampasse à margem do ribeiro de Querite.
O significado disse é que, a princípio, o profeta teria garantido o suprimento de água para sua subsistência.
Uma solução ponderável por sua naturalidade.
Mas o homem
de Deus, além de beber precisaria de comida para sobreviver, em meio à seca
reinante.
Foi aí que o imponderável aconteceu.
Aves de
rapina – corvos - foram designadas para trazerem - sabe-se lá de onde - pão e
carne, todos os dias,
logo cedo e ao anoitecer.
Será que é ponderável pensar em urubus servindo “manjares celestiais”
a um ermitão solitário
acampado à beira de um riacho?
Claro que para nossas mentes configuradas em tudo que é ponderável, não há possibilidade de aceitar, por mais que forcemos o nosso lado racional.
Não há
explicação plausível para a veracidade do fato, entretanto, segundo descrição bíblica,
foi isso mesmo que ocorreu.
Uma outra coisa que devemos pensar é que todo tratamento - seja natural ou especial -
tem prazo de validade.
No caso em destaque, o que era natural
e ponderável
– o riacho – devido a grande estiagem,
como era de se esperar, secou.
O que era
sobrenatural e imponderável - os corvos transportando iguarias - continuou.
Mas continuou só até ao ponto em que a natural sede do profeta prevalecesse como necessidade.
Isso quer
dizer que, o natural em uma área específica,
ao tornar-se exaurido, qualquer manifestação do
sobrenatural em outra área que não aquela que se exauriu, torna-se algo completamente supérfluo.
IMPONDERÁVEL No.2 – MULTIPLICAÇÃO DE ALIMENTO
Ordens
celestiais, por vezes, são difíceis
de entender e de aceitar.
Deus
ordenou que o profeta Elias saísse do acampamento instalado às margens do riacho seco,
e fosse à casa de uma viúva em Sidom,
que estava na maior pindaíba.
Meio sem
jeito por atestar a situação da pobre mulher, o sedento profeta, pediu-lhe apenas um
pouco de água.
Saciada a sede, sentiu uma pontada de fome em seu estômago vazio, e com a maior cara dura,
pediu-lhe um bocado de pão.
Tomada de espanto, a pobre mulher,
com
toda franqueza, fez um triste relato
de sua miserável situação.
“Tenho apenas um punhado de farinha numa panela, e um pouco de azeite
numa botija, só dão para uma
refeição.” (I Re. 17.12)
Eis que
então, surge o imponderável e ele advém pela boca do próprio profeta.
“Não tenha medo; vá e faça um bolo pequeno para mim em primeiro lugar, e depois faça para
você e seu filho.” (I Re. 17.13)
Está aí algo difícil de compreender,
aceitar,
e principalmente, cumprir.
Primeiro, o profeta disse à mulher que o
medo que ela sentia, tinha que ser eliminado, mesmo sabendo que
aquela era a última porção de
comida
disponível em sua casa.
Esse princípio é uma constante na Palavra
de Deus.
O medo tem que ser domado e ultrapassado de
qualquer maneira, não importam as circunstâncias.
Segundo, o profeta disse à mulher: vá e
faça, ditando assim, que a ação é imprescindível.
Ficar pensando, inerte, parado, omisso, não leva apenas à estagnação, produz deterioração e morte.
Terceiro, o profeta deixou implícito que
para receber, antes de tudo, é preciso dar.
A dádiva abre espaço para o
fluxo da graça.
Se a viúva desse vazão ao seu lado racional,
com certeza, mandaria o profeta às favas, em dois tempos.
No mundo em que vivemos, sempre somos induzidos a
levar vantagem sobre os outros,
Isso ocorre porque o nosso lado racional,
temerosamente, teima em nos alertar
e ressaltar, apenas as carências que nos cercam.
O princípio da Palavra de Deus, segue caminho inverso ao que é ditado pela racionalidade, incentiva-nos a
dar sempre, sem olhar para as circunstâncias,
para só depois receber.
Não há lógica nisso, é por isso mesmo, que essa ação pode ser categorizada no terreno dos imponderáveis, onde quase tudo é impossível de materialização.
Mas, como o profeta já tinha experimentado o
imponderável antes, tratou de explicar à mulher como é que seriam desencadeados os acontecimentos celestiais.
“Assim diz o Senhor Deus
de Israel: a farinha da panela não se acabará; o azeite
da botija não faltará; até ao dia em que o Senhor
derramar
chuva sobre a terra.” (I Re. 17.14)
A mensagem profetizando o imponderável já vinha com prazo de encerramento: "até ao dia em que o Senhor derramar chuva sobre a terra".
Interessante, foi a atitude da mulher: não titubeou, fez tudo como o profeta lhe determinara.
Comeram a pequena porção - a mulher, o filho e
o profeta - por muitos dias seguidos.
IMPONDERÁVEL
No. 03 – RETORNO À VIDA
O miraculoso quando diz
respeito a coisas palpáveis,
não se perpetua, e não tem poder
de convencimento
duradouro.
A mulher, o filho, e o profeta, bem
alimentados na sequidão na terra, sobreviviam nas raias do sobrenatural, até
que outra terrível adversidade se manifestasse.
O filho da viúva adoeceu, a enfermidade se agravou, e por fim, cessou-lhe o fôlego da vida.
Quando uma nova e dura dificuldade aparece,
tendemos a esquecer de todos os
benefícios que nos foram outorgados.
A mulher, transtornada, logo elegeu
o culpado de tamanha desgraça: o homem de Deus.
“Que tenho eu contigo
homem de Deus, vieste a mim para trazeres à memória, a minha iniquidade e matares o
meu filho? (I Re. 17.18)
Quando apontamos para um
culpado, não nos damos conta de que sempre nos desnudamos um pouco, e deixamos à mostra, o pior de nosso interior.
A viúva, ao acusar o homem de Deus como
culpado pela tragédia que se abatera sobre ela, entregou o ouro
de
seu negro passado, até então, escondido a sete chaves.
No fundo ela sabia que um dia seria
descoberta, então, concluiu erroneamente, que a morte do filho
era o castigo derramado como vingança de seus erros passados.
O profeta, perplexo, sem entender naquele
estágio, os desígnios de Deus, resolveu partir mais uma vez
para o imponderável.
Por sua conta, deitou-se sobre o cadáver do
menino, e por três vezes bradou clemência ao Senhor.
“Ó Senhor, meu Deus,
rogo-te que torne a alma deste menino a entrar nele.” (I Re. 17.21)
Deus ouviu a voz do profeta, e mais uma vez, manifestou-se através do imponderável.
Fez a alma retornar, e o menino reviveu.
Jubiloso, o profeta tomou o menino em seus braços –
vivo – e trouxe-o de volta à mãe.
Diante do miraculoso, a mãe prostrou-se ante ao profeta, e prontamente, reconheceu que ele era realmente
um homem
de Deus.
IMPONDERÁVEL
No.04 – CHUVA DEPOIS DA ESTIAGEM
A fome chegou ao extremo.
Deus então ordenou ao profeta que se
apresentasse
ao rei Acabe e anunciasse que
Ele derramaria chuva sobre a terra.
“Então disse Elias a
Acabe: Sobe; Come: Bebe;
porque
há ruído de uma abundante chuva.”
(I Re. 18.41)
Se
na ocasião houvesse serviço de meteorologia, certamente, em todas as redes de comunicação, a afirmação do profeta seria amplamente contestada,
e ele, tachado de louco varrido, por anunciar
a tolice de grande tempestade.
Sob um sol inclemente, Elias subiu ao monte
Carmelo, inclinou-se por terra, meteu o rosto entre os joelhos e invocou ao Deus
Todo-Poderoso pedindo-lhe mais
uma vez a manifestação do imponderável celestial.
No próprio monte, Deus ordenou-lhe que olhasse
para a banda do mar, e ele o fez, mas nada viu além do óbvio.
Deus insistiu na ordem dada, e especificou que
olhasse por sete vezes.
Em seis tentativas, o homem de Deus nada
vislumbrou, mas na sétima, notou a pequenina nuvem no formado da mão de um homem
que vinha da direção do mar.
Arrepiou-se todo, sabia que era o sinal do
imponderável, e em assim sendo, a chuva seria abundante.
Célere partiu ao encontro do rei e mandou o
recado a plenos pulmões:
“Vai chover, apanha o teu
carro e desce rápido antes que a chuva não te impeça.” (I Re. 18.44)
Nuvens escuras se formataram sob uma grande ventania, e logo, uma chuva torrencial desabou sobre a terra.
O poder do Senhor veio sobre Elias que,
prendendo a capa com o cinto, correu à frente da carruagem
de Acabe por todo o
caminho.
A vida natural, regulada pelo ponderável, faz com que enfrentemos
muitos obstáculos e dificuldades que, não poucas vezes, parecem muralhas intransponíveis.
Isso acontece muitas vezes em nossa existência.
Ocorre que, como seres espirituais que somos, temos a
possibilidade de ligação transcendental.
Ela ocorre quando clamamos, suplicamos e intercedemos por outrém ao Deus Todo-Poderoso.
Janelas do céu se abrem e os imponderáveis são
despejados, sobrepondo-se em nosso mundo,
com o fito de nos favorecer.
E o que é belo nisso tudo: sem desfigurar a nossa trilha natural, que um dia nos foi reservada.
Passada a manifestação do imponderável, tudo volta à
ordem natural, mas uma diferença fundamental:
A alegria - que é a força do Senhor - inunda de vez e por inteiro, todo o nosso coração.
TÉRCIO
PAIVA FARIAS