DESORGANIZADO... EU?
Desorganizado, acho que sou, mais ou menos, apenas.
Isso, até eu dar início a uma checada em minha vida
para valer.
Comecei a examinando o meu quarto logo cedo,
ao despertar.
Levei um susto.
No cabide fixo, aquele de vários braços,
não havia um bastão disponível.
Calças, camisas, camisetas, blusas, peças íntimas,
todas penduradas, e não poucas não.
Resolvi abrir o guarda-roupas, e me deparei com o caos, tinha de tudo ali dentro, e nada estava no lugar.
Na parte de fora da casa, onde fica o meu escritório, aliás, bem privativo, é um local onde dificilmente
sou incomodado.
Dirigi-me então ao lugar de minha labuta diária que,
diga-se de passagem, é excessiva,
e sem diminuição à vista.
Abri a porta, olhei para a minha escrivaninha,
e constatei: estava toda
entulhada de livros,
papéis e um monte de outras coisas que nada
tinham
a ver com os meus afazeres diários.
Desviei o olhar para a estante de livros à direita,
e em seguida, para o armário à esquerda.
Ambos estavam cheios de qualquer coisa que
alguém possa imaginar.
Meu escritório, na verdade, era uma baderna só.
Precisei sair rapidamente, dirigi-me à garagem, e quando olhei o meu
carro... ainda estava sujo de areia
da recente viagem à praia.
Abri a porta para me acomodar, não sem antes,
dar uma boa olhada geral.
Talvez seja melhor não descrever, não,
é melhor contar tudo de vez.
Espalhados nele estavam cartões de estacionamento, comprovantes de
pedágios, propagandas de vendas de apartamentos distribuídos nos faróis,
guarda-chuva,
porta lixo lotado de tranqueiras, resíduos de
salgadinhos, e para culminar, um odor nada, nada agradável.
Saí
com o carro assim mesmo, enfim, eu já estava tão acostumado com a
bagunça, o incômodo da constatação, durou só um pouco espaço de tempo.
Já no tráfego, aproveitei para dar uma olhada
em meus trajes.
Quase pisei no freio abruptamente, tal foi meu espanto.
Estava de havaianas, com uma bermuda velha bem esgarçada, camiseta básica com uns furinhos,
discretos mas evidentes.
Olhei no espelho, e quando me vi, atestei que a barba estava por fazer há alguns dias.
Só então me dei conta de que ia ao centro da cidade, e uma vez por lá,
podia muito bem encontrar pessoas conhecidas que me tinham em alta
conta, e me viam sempre no púlpito, decentemente trajado,
todos os
domingos.
Outra questão que levantei foi: por que a pressa em sair de qualquer jeito para ir ao centro da cidade?
Ora, amigos, a justificativa eram as contas a pagar - a maioria com
data vencida – o que significava que
no próximo boleto, eu arcaria com
cobranças suplementares de juros e correções previstas.
Essa saidinha imprevista para apagar um incêndio do cotidiano, atrapalhou e muito, os meus planos.
Bastou uma olhada no celular para ver que e-mails se acumulavam na
caixa; o zap estava atulhado de mensagens, e chamadas por telefone, pelo
menos três,
as quais tive que atender às pressas sem ponderação.
Para dar essa saidinha, tive que dar um "stop" na preparação de esboços, palestras,
sermões e estudos em que estava metido.
Sabem, aquele tal livro que eu me propus a escrever, pois é, permanece na geladeira há tempo
e sem data para descongelar.
Atendimento programado às pessoas, não tive outra escolha a não ser a remarcação.
Assim, semana após semana,
a minha toada rotineira é essa.
Quantas e quantas vezes tenho que escapulir,
para tratar de algo que
nada tem a ver com o que realmente interessa à minha atuação
profissional e religiosa.
Guiando de volta para casa, lamentando o tempo perdido, tomei uma decisão:
Doravante, vou me firmar apenas naquilo que é importante, e naquilo que verdadeiramente interessa.
Este sério propósito, perdurou apenas quinze minutos.
No escritório, ao abrir o computador, não resisti à tentação, e perdi meia hora olhando bobagens
que nada me acrescentavam.
Resolvi então voltar ao foco a que me tinha proposto, no entanto, a
energia e a disposição já não se encontravam mais ali para continuar.
O que fiz a seguir?
Ora, amigos, tratei de empurrar tudo com a barriga, ou em outra palavra mais técnica: procrastinei.
Aquilo que eu me propus fazer com todo capricho, certamente agora, seria feito
no tapa e no último segundo.
A excelência que eu apregoava era linda como retórica, mas não passava de teoria que, na prática,
ia para o beleléu.
No fundo, no fundo, eu me abomino quando comprovo que fui mal por causa de uma negligência pessoal.
Quando isso acontece, eu me cobro mais ainda e prometo outra vez que nunca mais permitirei uma recaída.
Pelo que bem me recordo, essas promessas, sempre as faço numa segunda-feira, logo pela manhã.
Pasmem, amigos, mal chega a noite e o meu estrito controle da situação já bateu asas outra vez.
A conhecida bagunça, toda faceira é quem se esparrama em seu lugar.
Desorganizado... eu?
Admito, envergonhado, que sim, desorganizado contumaz.
Desorganizado... você?
Tente se explicar para ver!
TÉRCIO PAIVA FARIAS
PEPITAS do Tércio